domingo, 14 de janeiro de 2018

Crónica X - Era uma vez...


Esta bem podia ser uma banal história de Natal. Uma história em que os bons vencem e os maus são castigados.
Poderia muito bem ser essa a história que tenho para vos contar, mas não!
A história que tenho para vos contar é a história de um povo que se julgava privilegiado por viver no mais belo lugar do mundo.
Num lugar tão perfeito que todos os seus habitantes estavam verdadeiramente convencidos de que não era necessário cuidar dele. Tão convencidos estavam os seus habitantes que a magia da terra que habitavam era tão forte que mesmo que fossem descuidados e negligentes a natureza seria sempre sua protetora.
Com o decorrer dos anos os campos foram ficando abandonados. As casas desabitadas. As florestas foram invadidas por espécies gananciosas, como gananciosos foram os vilões que invadiram este lugar mágico porque os habitantes, desvalorizando o tesouro que tinham herdado, o abandonaram ou tornaram-se descuidados.
E certo dia… porque ninguém cuidou deste lugar mágico, o fogo derrubando todas as muralhas, conquista a terra que sendo de todos, não houve gente suficiente para a defender.
O fogo queimou, numa fúria imparável tudo o que encontrou pela frente. Negro ficou o céu. Negra ficou a paisagem. Negra ficou a terra. Negros ficaram os aromas, o ar e a visão. Negra ficou a esperança Um manto negro se ergueu sobre este lugar mágico tornando negros os corações e os sentimentos. Engradeceu a revolta e a injustiça.
E quando parecia que a história que tenho para vos contar está prestes a ter este negro final…
Bem, afinal vou contar-vos outra história… estamos no Natal, não acham?
Esta é a história de uma comunidade que se une para levar umas pinceladas de cor àquele lugar tão mágico que o fogo tinha tornado tão negro. De um povo que se une e oferece o que tem de melhor: a sua generosidade.
Esta é a história de todos vós e daqueles que não podendo aqui estar estão em suas casas mas que de alguma forma ajudaram a reescrever um final mais colorido. É a história de crianças, jovens e adultos mas também de instituições.
Os heróis desta história és tu, e tu ali ao lado, e tu ali à frente, e de vocês lá mais ao longe, de mim e de TODOS.
Durante dois meses as gentes deste lugar solidário, que se chama Crato, esteve unidade para este propósito: transmitir aos mais jovens com quantas palavras se escreve o valor da solidariedade.
E para que esta história pudesse ter um final feliz, os jovens heróis foram de viagem até ao lugar negro levando na sua caravana um camião cheio de donativos e os corações cheios de esperança. Foi uma viagem física mas também uma viagem de sentimentos.
No lugar onde as memórias ficam guardadas ficaram gravadas as imagens negras que viram para que nunca mais ninguém se esqueça que até os lugares mágicos precisam de habitantes que cuidem dele.
Bem-haja a cada um de vós. O Concelho do Crato está de parabéns por ter levado até ao concelho de Tábua um arco-íris.
Lúcia Gonçalves
(13-12-2017)

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Casas Contadoras de Histórias I



Casas Contadoras de Histórias

Saber ouvir é uma virtude, diz a sabedoria popular. Para além dos sons, um bom ouvinte deve também escutar as histórias silenciosas. Aquelas que estão gravadas nos espaços que o passar do tempo foi esvaziando e envelhecendo.
Cada poro de uma Casa sussurra milhentas histórias.
Para entender a arquitetura emocional de uma casa há que sentar-se junta a ela. Contemplá-la de vários ângulos. Fechar os olhos e sentir-lhe os aromas… e depois… depois é só permitir que as memórias da Casa sejam enriquecidas com a imaginação.
Há Casas Contadoras de Histórias de viajantes, de romances, de encontros e desencontros, de avanços científicos, de vitórias e derrotas, de pastores e mouras encantadas, de lutas laborais, de traições, de confidências, de silêncios… 
Texto e Fotos de Lúcia Gonçalves (abril de 2017)









































































 







quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Crónica VIII - OS SERES SUGADORES DE FELICIDADE


O remorso de Orestes,
Com bastante frequência todos questionamos ao longo desta, cada vez mais, considerada efémera e frágil passagem pela vida: o que é a felicidade?
Com a depressão apontada como uma das doenças mais graves e comuns dos tempos ditos de modernos (fustigando novos, maduros e velhos) vulgarizam-se as prescrições de profilaxia e tratamento, com receitas intituladas de autoajuda e listagens de conselhos, uns bons outros assim-assim, que asseveram ser possível alcançar o elixir do bem-estar e, em fim último, o da felicidade. Para tal basta seguir o receituário prescrito pelos doutorados especialistas ou pelos entendidos nesta atual terapia designada de counseling.
Com tanta metodologia e prescrições, umas pagas chorudamente em workshops, outras gratuitamente adquiridas apenas ao navegar pela internet à distância de um clic, pergunto-me porque será que ainda existem SERES que, em vez de consultarem um especialista, ou/e se automedicarem ou/e, ainda, lerem uns quantos fabulosos artigos já publicados, canalizam as suas forças, energias (estas sim doentias) e massa cefálica a pretenderem curar a felicidade alheia com injeções de mentira, inveja, vingança, rancor e crueldade? Assumindo uma duplicidade de papeis/trajes, ora de vítima, ora de agressor.
Parece que, por estes dias, é mais grave ser-se feliz, ou pelo menos estar a bem com a VIDA, do que estar num estado depressivo-agressivo! Aparenta, e reforço, aparenta, que o bem-estar é mais preocupante do que o mal-estar individual! Causa mais indignação uma boa risada, do que o triste soluço mal disfarçado que asfixia e causa dor.
Será que estes SERES sugadores de felicidade estarão tão alucinados ao ponto de acreditarem que, tal como acontece numa transfusão de sangue em que os compostos se diluem numa mesma circulação, também eles conseguirão alcançar a panaceia da felicidade, sugando-a dos outros SERES? Será que estes SERES desprovidos de qualquer nobreza de sentimentos serão eles os vampiros do tempo presente? Intitulam-se vítimas da má-sorte e do abandono, mas agem como dominadores. Será que numa pobreza de carácter terão a ilusão de que a felicidade se rouba ou invés de se construir de dentro para fora, tendo como pilar a nobreza e autenticidade dos sentimentos, dos afetos, dos gestos e das palavras? Acreditarão que o próprio bem-estar se constrói sobre os despojos da dor de outrem?
A felicidade vai sendo o radioso reflexo da beleza interior de cada um.
Quando vamos na rua e tropeçamos numa pedra, umas vezes conseguimos manter o equilíbrio, outras vezes caímos. Aleijamo-nos com mais ou menos gravidade. Cuidamos da ferida para que ela não infete e cicatrize o mais rapidamente possível. Quando assim é somos SERES cuidadores de nós próprios. E contagiamos quem nos quer bem com esta alegre resistência. Somos SERES cuidadores do outro. Lutamos com garra para vencer a nossa dor, saramos as nossas feridas e seguimos em frente. Somos sobreviventes! Daí por diante, apenas seguimos já mais atentos às pedras que poderemos vir encontrar na nossa jornada. Aprendemos a caminhar seguro, não esquecendo a pedra que nos fez cair. Mas também não evitando todas as pedras que surgirão no caminho que só terminará quando a vontade de VIVER se desvanecer. Também não nos revoltamos com todas as pedras! Não as passamos a odiar! Aplicamos a unção da compreensão e do perdão, reconhecendo os nossos próprios limites e imperfeições. E somos fortes por isso. Acreditamos que estar VIVO é ir sempre afastando a meta, ultrapassando os próprios marcos, ambicionando a tão utópica mestria. Seguimos caminhando sempre na esperança de encontramos bons trilhos, bons companheiros de jornada, sem nunca perder a consciência do acidentado do percurso. Enfim! Construímos a felicidade da caminhada dentro de nós, por nós próprios e para nosso regozijo.
Os SERES sugadores de felicidade são SERES sem trilho! Sem ponto de partida e não estão construindo a sua meta-felicidade. Desconhecem o companheirismo. E são fracos por isso. Não curam de suas feridas! Tão pouco das feridas dos outros! Aprofundam-nas ainda mais, alimentando-se da dor que em si causam e naquela que julgam causar aos outros. São ELES a colocarem as pedras em seus próprios caminhos num frenético ziguezague que provavelmente os consumirá. Gastam seu potencial, não a construírem o seu bem-estar, mas a arquitetar manhosamente estratégias de sugar a felicidade que julgam ser sua por direito. Esgotando a sua efémera passagem por esta VIDA invejando a caminhada alheia. O seu tempo se apagará sem nunca terem tido, sequer, um pequeníssimo vislumbre da felicidade que é sentida quando somos construtores e vencedores da nossa própria caminhada.
Lúcia Gonçalves (dezembro de 2016)

Romances publicados

Adquira em:
http://www.edi-colibri.pt/Pesquisa.aspx?Action=PesquisaR&Query=O%20Monte%20das%20T%C3%ADlias

https://www.wook.pt/livro/o-monte-das-tilias-lucia-goncalves/17403881


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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Outra forma de amar


Amo-te para além da carne.
O nosso amor
é um permanente carinho,
mesmo quando não estamos juntos.
Numa mútua aceitação,
de o consumarmos num mundo paralelo.
Na ignorância dos que me julgam conhecer,
amo-te com tal fervor,
que me sinto ensandecer.
No sentir-te longe,
quem sabe noutro aconchego,
sinto-te em mim, 
sacio minha fome de te querer.
Num sentimento correspondido,
amamo-nos noutra dimensão,
no reboliço de nossos sonhos.
Somos mais do que carne.
Amamo-nos com o olhar
que tanta vez nos compromete.
Unimo-nos quando nos afastamos.
És para mim o toque frio
do orvalho que refresca a madrugada.
Amo-te quando descobres,
na opacidade do meu ser,
a minha transparência.
Num afeto perfeito,
para lá da matéria.
Amamo-nos divinamente
porque somos mais do que carne.
Somos rosas azuis
que floriram em janeiro.
Lúcia Gonçalves
Romances publicados

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